O diálogo contínuo entre o clássico e o moderno
Por Paulo Mordehachvili
Música tenderá a voltar à tona regularmente como tema nas minhas cartas…
Para quem nunca viu Pink Floyd (ou David Gilmour, ou Roger Waters) ao vivo, há uma espetacular banda cover, com uma boa assiduidade de shows em alguns bares, que levam o som muito a sério, inclusive o Blue Note, que tem uma assinatura sônica impressionante, que obviamente toca Pink Floyd mas que consegue usar variações diversas que a própria banda usou na sua trajetória, e até algumas próprias, em um amálgama de sons espetacular. Recomendo demais, inclusive para aqueles que, como eu, tiveram a felicidade de ver as bandas dos integrantes chave ao vivo – nas suas memoráveis e impressionantes produções artísticas.
Pink Floyd é uma banda que não faz parte do meu dia a dia. Mas se mete. Nunca constará em uma playlist, mas de repente um artigo ou vídeo aparece, e me fisga. Tal qual Beethoven.
Para muitos o que falarei a seguir, com o apoio do chatGPT nas pesquisas diversas, pode soar como sacrilégio – tomara que faça algum sentido para você ao final.
Na paisagem musical da década de 60 e 70, onde os gêneros se entrelaçaram e as fronteiras sonoras foram constantemente redefinidas, a influência de Ludwig van Beethoven sobre o rock ‘n’ roll, especialmente notável no legado do Pink Floyd, oferece uma janela fascinante para o diálogo contínuo entre o clássico e o moderno. Como as ondas sonoras geradas por Beethoven há séculos continuam a ressoar, encontrando eco nas inovações e na expressão emocional do rock progressivo, com o Pink Floyd pré – e pós – Syd Barrett servindo como um exemplo primordial dessa fusão transcendental?
A música transcende épocas, conecta ouvintes e compositores, intérpretes e produtores através de séculos com sua linguagem universal de emoção e expressão. A trajetória de Ludwig van Beethoven, um titã da música clássica, e sua influência no rock ‘n’ roll, ilustra essa conexão atemporal, demonstrando como sua obra continua a inspirar e influenciar gerações muito além de seu tempo.
Beethoven deixou uma marca indelével na música, caracterizada por sua inovação melódica, profundidade emocional e energia rítmica. Sua habilidade em transmitir um vasto espectro de emoções, de alegria a desespero, através de melodias por vezes complexas e memoráveis, por vezes simples e profundas, encontrou eco no coração do rock ‘n’ roll. Artistas do gênero, em busca de expressar emoções profundas, muitas vezes se voltaram para a abordagem de Beethoven, incorporando elementos de suas obras em suas músicas. Exemplos notáveis incluem “Because” dos Beatles, inspirado pela “Sonata ao Luar”, e adaptações pop de obras de Beethoven por artistas como a Electric Light Orchestra.
Além das influências melódicas e temáticas, a abordagem revolucionária de Beethoven à composição, desafiando convenções e expandindo as formas musicais, ressoou com o espírito inovador e rebelde do rock. Sua utilização de dinâmicas e contrastes também influenciou a maneira como os músicos de rock criam tensão e liberação em suas canções, ampliando o impacto emocional de suas obras.
A vida e a obra de Syd Barrett, fundador do Pink Floyd, igualmente oferecem um olhar contemporâneo sobre como as lutas pessoais e a inovação artística podem se entrelaçar, criando música que desafia e redefine gêneros.
Embora talvez não existam citações diretas das obras de Beethoven no repertório do Pink Floyd, as similaridades em suas abordagens musicais sugerem uma conexão subjacente. O Pink Floyd explorou novas fronteiras e, assim como Beethoven quebrou os moldes da música clássica, o Pink Floyd inovou no rock progressivo com paisagens sonoras experimentais e temáticas conceituais profundas. A amplitude dinâmica e o impacto emocional presentes nas obras de ambos criam narrativas musicais envolventes que capturam a nossa imaginação, enquanto o uso de motivos e a profundidade conceitual reforçaram para nós as mensagens e visões artísticas desses gigantes da música.
A influência de Beethoven não se limita apenas às semelhanças musicais, estendendo-se às lutas pessoais enfrentadas por ele e por Syd Barrett. A surdez progressiva de Beethoven e os desafios de saúde mental de Barrett moldaram suas trajetórias musicais de maneiras significativas. Ambos encontraram na música um refúgio e uma forma de transcender suas adversidades, deixando um legado de obras que continuam a inspirar por sua inovação, profundidade emocional e ressonância universal.
Através das épocas, a música de Beethoven e a inovação de Syd Barrett com o Pink Floyd destacam a capacidade da música de refletir a experiência humana, transformando adversidades pessoais em expressão artística. A influência de Beethoven no rock ‘n’ roll e sua conexão espiritual com artistas como Barrett demonstram que, apesar das diferenças de época e gênero, a música possui um poder universal de conectar, inspirar e desafiar, mantendo-se como uma linguagem comum que transcende as barreiras do tempo.
Após a saída de Syd Barrett, Pink Floyd continuou a evoluir, deixando uma marca indelével na história da música com sua abordagem inovadora e conceitual. Essa evolução foi influenciada por uma combinação de fatores internos e externos, incluindo as contribuições individuais dos membros da banda, o contexto sociopolítico da época e a interação com outras formas de arte e gêneros musicais. A influência da música clássica e a disposição para experimentar continuaram a desempenhar um papel na forma como Pink Floyd se desenvolveu após Barrett.
O Pink Floyd aprofundou sua exploração de álbuns conceituais após Barrett, com obras-primas como “Animals”, “The Dark Side of the Moon”, “Wish You Were Here” e “The Wall”. Esses álbuns não apenas exploram temas complexos de alienação, guerra, insanidade e opressão, mas também fazem uso de técnicas inovadoras de produção e design de som, ecoando a abordagem de Beethoven de criar música com profundidade emocional e narrativa.
Assim como Beethoven experimentou com as formas e estruturas musicais de sua época, Pink Floyd, especialmente sob a liderança musical de David Gilmour e Roger Waters, empurrou os limites do rock progressivo. Eles exploraram novas tecnologias, como sintetizadores e efeitos de estúdio, para criar texturas sonoras ricas e atmosféricas, uma prática alinhada com a inovação contínua vista na música clássica. As múltiplas camadas musicais são marca registrada da banda.
A banda se inspirou em uma variedade de fontes ao longo de sua carreira, desde a literatura e o cinema até o jazz e a música eletrônica. Essa abertura para diferentes formas de arte e gêneros musicais reflete a atitude de Beethoven de desafiar as expectativas e explorar novas ideias, mesmo que a influência seja mais filosófica do que diretamente musical.
Assim como Beethoven influenciou gerações de músicos em vários gêneros, Pink Floyd se tornou uma pedra angular para o rock progressivo e além, inspirando artistas a explorar novas dimensões de som e conceito em suas próprias obras. Sua abordagem para a composição de álbuns como obras coesas e conceituais pode ser vista como paralela ao impacto que as sinfonias e sonatas de Beethoven tiveram na estrutura e forma da música clássica.
A essência da abordagem à música — mistura de inovação, profundidade emocional, exploração sonora e conceitual — permanece um paralelo fascinante entre Beethoven e Pink Floyd, na minha opinião.
Beethoven, desafiou os limites de seu meio, explorando novos territórios emocionais e sonoros e, ao fazê-lo, deixou uma marca eterna na música que continua a inspirar e influenciar. E o Pink Floyd?
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