Ano novo vida, vida nova, certo? Então vamos começar o ano inaugurando, neste janeiro de 2024, a carta do CEO da CECyber.
Por Paulo Mordehachvili
Esta é a primeira carta do CEO da CECyber para nossos clientes, amigos e parceiros. Trataremos aqui de diversos assuntos, de temáticas variadas, sem que haja uma ligação direta com o core business e com a missão da CECyber, que é desenvolver a força de trabalho da cibersegurança brasileira.
O que buscaremos trazer à tona são insights, questionamentos, debates, e de modo geral, coisas interessantes para suscitar a combinação da leitura, mesmo que dinâmica, com a vocação e vontade de conversar sobre temas que muitas vezes queremos, mas não temos chance, de trazer para a mesa – mesmo para a mesa de botequim. Acho que vai ficar claro rapidamente que não se trata de texto gerado pela IA, mesmo que isso possa ser extremamente conveniente e que possa ser incorporado, com extremo cuidado para não perder a emoção e senso crítico que vêm do nosso âmago. Será sempre um tema de cunho personalíssimo, mas que certamente pode ser de interesse e compartilhado por muitos de nós.
Um excelente 2024! Que venha com paz, harmonia, felicidade e realizações, e que tudo isso comece dentro de nós!
Tema de hoje: Educação
No tema de hoje, falamos de educação. Mas não sobre a educação formal de escolas.
Todos nós sabemos que aprender sobre tecnologia e cyber quase sempre tem como driver um elemento fundamental: a vontade de aprender, a curiosidade intelectual. Mas aprender sobre tecnologia comumente requer um embasamento básico que infelizmente nem todos têm acesso no Brasil. A tragédia da educação brasileira é vastamente conhecida. Não há métrica ou indicador que nos é favorável na comparação com países desenvolvidos, e com alguns nem tanto. Este não é o foco desta carta.
Vamos falar sobre dois fatores influenciadores da performance acadêmica. Em outro momento, certamente será interessante e crucial falar sobre a educação no Brasil. Mas por ora, falaremos somente aos pais e não ao país.
Tomara que a nossa carta suscite debates, respostas incríveis, críticas, e comentários, que venham com o cuidado de serem construtivas, para a troca saudável entre todos nós.
Hoje eu queria trazer à tona uma questão que está sempre na minha cabeça, inclusive em parte das minhas sessões de psicanálise. Por ser paulista (e eu carioca), a minha analista é muito entranhada em questões do perfil acadêmico, metodologias e abordagens diversas das escolas de São Paulo, onde vivo. Acaba sendo um tema recorrente, dado que na minha família nós estamos justamente na fase inicial de escolha de escola, do nosso casal de gêmeos, de quase 4 anos.
É tema recorrente, obviamente, para pais preocupados com a formação dos filhos, como a maioria de nós.
É senso comum apontar que sucesso acadêmico não é o único fator de sucesso na vida, mas, na média, é fator de sucesso profissional. Se há pontos fora da curva, eles são exatamente isso. Creio que é fácil observar a correlação entre performance acadêmica e ascensão profissional em empresas e organizações diversas. Não trouxe dados sobre esta correlação, logo estou aberto a ouvir o antagônico. Somente peço sempre muito cuidado com as fontes!
Cresci na casa de uma professora, que estudou para ser professora no tradicional Instituto Normal, ainda na longínqua década de 50, e que mais tarde, exerceu a profissão de fato em escolas públicas do nível básico. Interessante dizer que o Instituto Normal é um exemplo de ensino técnico ainda no nível médio.
Mesmo não sendo o tema de hoje, é sempre importante frisar: no Brasil, apenas 9% dos alunos do ensino médio fazem um curso técnico ou de qualificação. Na União Europeia, esse percentual é de 43% (Education at a Glance 2021/OCDE). Belo assunto para uma próxima carta!
Minha mãe, professora no ensino forma, trouxe à tona desde sempre aspectos, digamos, coadjuvantes ao acadêmico. O que nossas crianças podem fazer para gerar ganhos na performance acadêmica?
Se foco, disciplina e atenção são elementos importantes para a formação acadêmica, por exemplo, que atividades apoiam estes elementos?
Acredito que a experiência de países como Japão, Alemanha e outros mostra que existem, além da escolarização, diversos elementos, coadjuvantes porém críticos, até para a obtenção de ganho no coeficiente da inteligência médio da população em geral.
Vejamos, a partir de dados do site dadosmundiais.com, os países com média de QI acima de 100. Impressiona o nível de QI de países asiáticos, mesmo na comparação direta com outros países desenvolvidos, e ricos!
Existem elementos coadjuvantes na formação das crianças nestes países, que permeiam o alto score no ranking de QI? Creio que sim, e trago à tona dois deles – estritamente sob a minha ótica e a partir da minha observação pessoal.
O estudo da música e especialmente o piano, e o ábaco, merecem, na minha opinião, destaques à parte.
O desenvolvimento do hipocampo no cérebro, como relata a minha analista, diz respeito diretamente ao desenvolvimento da memória. O piano, como instrumento, impacta diretamente vários aspectos neste sentido: as teclas são matematicamente divididas, visualmente óbvias e se repetem em padrões. As escalas musicais têm padrões fixos (escala maior, menor, etc.), e finalmente, o som traz para o espaço não visual aquilo que é exposto, e traduz o que é tocado (que por sua vez envolve coordenação motora) para as sinapses cerebrais, e por fim, tocam à alma. É de arrepiar!
Quanta coisa uma aula de piano traz!
Como sabemos, o aprendizado do piano não é garantia de sucesso, nem mesmo de amor pela música: quem faz aula de piano não necessariamente gosta de música (meu irmão mais velho), não necessariamente toca um instrumento mesmo que curta muito (nosso irmão primogênito), e não necessariamente segue com o instrumento de forma séria (eu), mesmo que alguns o façam, como a minha irmã. Todos nós tivemos a felicidade de ter exposição direta ao instrumento, e todos nós irmãos obtivemos performance acadêmica muito acima da média.
Impressionantemente, poucas semanas de aula de piano já geram efeitos positivos nas habilidades cognitivas, de acordo com o estudo da Universidade de Bath de 2022.
Minha mãe não precisou pensar muito para ter certeza do impacto do ensino do piano nas nossas vidas. Nunca perguntei por quê. Mais tarde ficou claro.
Há impacto no desenvolvimento do cérebro e no desenvolvimento da inteligência, mesmo que não uniformemente, em diferentes indivíduos. Esta já é uma opinião minha a partir de observações. Creio que a Europa traz uma referência clara sobre isso. É fácil encontrar estudos sobre o tema, como no quadro acima. Já o apreço pela música observável em pessoas ligadas às exatas é, para mim, impressionante. Mas não surpreende.
O ábaco e as letras dos alfabetos asiáticos são uma história à parte. Cada caractere pode ter múltiplos significados, e ainda são impactados pela construção das “frases”.
Enquanto não podemos replicar o alfabeto, creio que podemos lembrar de usar o ábaco: a calculadora aritmética das bolinhas, que traz para o cérebro a imagem da conta matemática a tal ponto que pessoas que treinam com ábaco comumente não mais usam o próprio ábaco, mas somente a imagem visualizada no cérebro. Procure no google ou no youtube competições de aritmética: o que se vê são crianças e pessoas olhando para o teto na hora de responder sobre contas matemáticas quilométricas, sem uso de calculadoras!
Estão “olhando” para um ábaco imaginário. Vejam o artigo aqui sobra a influência do ábaco sobre habilidades matemáticas em crianças. Notem que se fala também de computing skills, habilidades de computação.
Nós, como pais, temos que dar acesso e ferramental, no máximo das nossas possiblidades, aos nossos filhos. É bom saber o quão acessível algumas delas são.
Na minha visão, o piano e o ábaco são ferramentas cruciais para o desenvolvimento intelectual e acadêmico das nossas crianças, apesar de tão pouco utilizados.
Forte abraço,
Paulo Mordehachvili – CEO CECyber
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